« Home | Ministra da Cultura põe um ponto final às capitais... » | Guimarães eleita a Capital Europeia da Cultura 2012 »

RTP "debaixo de fogo"

A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) está hoje a ouvir todos os pivôs dos noticiários da RTP e dois assessores do primeiro-ministro, com o intuito de esclarecer a acusação feita na edição do passado sábado ao semanário Expresso, de uma eventual tentativa de governamentalização vinda do gabinete de José Sócrates.
No passado sábado, a manchete do semanário Expresso dizia que um assessor de Sócrates telefonou a um pivô da RTP, durante um dos noticiários do canal, tentando impedir a transmissão de uma notícia que seria desfavorável ao governo. Quem assume a denuncia é Agostinho Branquinho, vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, que adiantou ao jornal que o caso ter-se-á passado “no último meio ano”, recusando-se, no entanto, a revelar o autor desta ‘‘tentativa de intervenção despudorada’’. Na segunda-feira seguinte o PSD tenta dar ainda mais provas do eventual favorecimento da RTP ao governo socialista, acusando a estação de não convidar um representante do partido para debate no “Prós e contras”.
As queixas do partido social-democrata não são recentes. Já no mês de Abril o partido acusou a RTP de discriminar as suas jornadas, quando comparadas com as do PS, uma vez que a este foi concedido um directo. Em Junho, o parecer da ERC não deu como provado que RTP tenha praticado uma discriminação inaceitável, não deixando, porém, de alertar para o uso de critérios igualitários.
A 20 de Agosto a polémica instala-se novamente quando Eduardo Cintra Torres, numa crónica do Público, afrimou ter informações de que "o gabinete do primeiro-ministro deu instruções directas à RTP para se fazer censura à cobertura dos incêndios". No dia 24 a ERC anunciou a decisão de abrir um processo de averiguação dos factos. As audiências com os principais intervenientes terminaram a 7 de Setembro, mas desde essa data a ERC não voltou a pronunciar-se sobre o assunto.
A RTPN também não escapou à polémica, com uma queixa novamente vinda do principal partido da oposição, acusando uma equipa do dito canal de não ouvir todos os partidos políticos do Executivo Municipal do Porto de 26 de Junho. Desta vez o parecer da ERC deu razão ao PSD e a estação mereceu uma reprimenda.
Em declarações ao Jornal de Noticias, Felisbela Lopes, directora do curso de Comunicação social da Universidade do Minho, defende que é preciso analisar as acusações do PSD, saber se houve telefonema dos assessores do primeiro-ministro para o pivô, como publicou o Expresso e se é costume isso acontecer. Diz ainda que não acredita que os profissionais da RTP admitam ser pressionáveis. A seu ver, uma analise limitada a declarações entrará num "beco sem saída". A directora sugere que "deveria haver observatórios da informação que fizessem o escrutínio do que se faz nos noticiários, senão permanentes, pelo menos regulares". Diz que só estudos feitos com "um olhar distanciado podem destapar a realidade da Informação". Elogia a chamada de atenção feita pelo crítico Eduardo Cintra Torres à cobertura dos incêndios na RTP – "o ponto de partida de Cintra Torres é muito positivo, porque é quase tabu questionar estas coisas" – mas também aí sugere mais pesquisa.