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“Concorri porque não fazia sentido continuar a escrever para a gaveta”

Entrevista com Michel Oliveira, vencedor do Prémio Literário do TUM

Luís Michel Ferreira Oliveira frequenta o 2º ano do curso de Arqueologia, na Universidade do Minho (UM). Decidiu concorrer ao I Prémio Literário do Teatro Universitário do Minho (TUM) e viu a sua obra “Vento, Cordas do Violino Verde” arrecadar o 1º prémio do concurso. O Sopa de Actualidade foi entrevistá-lo para tentar saber mais sobre a obra vencedora e o seu autor.

Sopa de Actualidade - Fala-me um pouco sobre a tua obra. Qual a temática nela abordada?
Michel Oliveira -
Sendo eu o autor da obra penso que não me cabe responder a essa questão. Essa função ficará para a liberdade interpretativa de cada leitor. O que posso dizer é que me debruço sobre o que a vida contém e pode conter.

Por quê o título "Vento, Cordas Do Violino Verde"?
O título surgiu-me intuitivamente. É um verso, um verso que indica a essência da obra em questão.

Há algum escritor que te tenha inspirado?
Não me inspiro em nenhum poeta. Os poetas que li e leio não podem inspirar ninguém verdadeiramente, pois todos os poemas possuem algo de profundamente intímo. Os poetas não se mostram, ensinam. Ensinam-me a beleza e a importância da palavra, e todos eles a seu modo. Posso dizer que tenho uma especial admiração pelos clássicos, como Antero de Quental, Baudelaire, Cesário Verde, Verlaine, Rimbaud, Camilo Pessanha, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e seus heterónimos e Rilke. Da poesia contemporânea, vou lendo de tudo um pouco, como Celan, Neruda, Eugénio de Andrade ou António Ramos Rosa, por exemplo. A leitura deve ser imprescindível para quem escreve.

Então o que é que te inspira?
O que me inspira, de certa maneira, são as capacidades, as possibilidades, talvez infinitas, que vejo no sonho, na realidade, na vida, aquando do emergir da palavra para o universo da poesia. Se pudesse definir a poesia, diria que a poesia é respirar bem fundo, se é que me faço entender.

Como e quando surgiu o gosto pela poesia?
O gosto pela poesia surgiu no meu 11ºano de escolaridade, salvo o erro. Sei que foi numa aula de Português, com o estudo dos sonetos de Antero de Quental. Racionalmente, não sei explicar como surgiu, sei que fiquei a saber que tinha, até então, uma ideia completamente despropositada sobre o que significavam os poetas e a poesia. A professora da altura também foi muito importante, devido à sua maneira distinta e exigente de dar as aulas.

Vês a escrita como um hobbie ou como uma alternativa profissional?
Nem uma coisa nem outra. Vejo-a como uma espécie de necessidade.

O que te levou a concorrer ao Prémio Literário do TUM?
Soube do concurso por mero acaso quando espreitei um placard da U.M. Informei-me e vi que o prémio era a edição em livro da obra vencedora. Então decidi concorrer, porque achei que não fazia sentido continuar a escrever para a gaveta.

Alguma vez pensaste que podias receber o 1.º prémio?
Pensei, algumas vezes, sempre em duas coisas: receber o 1.º prémio ou não receber o 1.º prémio. Era fácil, portanto.

O que sentiste quando te disseram que a tua obra tinha sido a eleita?
Ao princípio não sabia o que sentia. Era uma sensação estranha, visto que foi e continua a ser uma novidade para mim. Contudo é algo que me deixa feliz!

Agora que a tua obra vai ser editada em livro, quais são as tuas expectativas? Que portas esperas que se abram?
Espero que o livro seja lido verdadeiramente. Se gostarem ou não, não importa. A única expectativa que tenho, e na qual posso confiar plenamente, é a de continuar a escrever sempre que possível.


Em jeito de conclusão, o jovem Michel Oliveira, que verá a sua obra poética publicada pela Quasi-Edições, deixou um apelo aos jovens escritores que, como ele, tentam a sua sorte: "Não desistam. Não desistam acima de tudo de escrever".

Gostei da entrevista, fica é a impressão de que as perguntas não são as melhores, há perguntas que não se fazem a um poeta, ou não fazem sentido fazer. De qualquer forma é erro comum em qualquer jornalista perguntar coisas como: «alguma vez pensou que podia ganhar?»; «vê na escrita um hobbie ou alternativa profissional?»; ou ainda «há algum escritor que o inspirou?». São coisas a que qualquer poeta tem dificuldade em responder, simplesmente porque as coisas são o que são, simplesmente porque têm que ser. Não perguntem ao poeta de onde vem a poesia, ou como surge um poema, ou aqueles que o inspiram, ou porque escreve, porque simplesmente não há motivo que o homem possa dizer pela vez do poeta.

Ainda assim é de louvar que ainda haja interesse em entrevistar poetas, o mesmo é dizer, interesse em entrevistar quem realmente tem algo de interessante para dizer. Aliás, como amigo do Michel, não pude deixar de soltar um sorriso ao ler esta entrevista, se o poeta e o homem são coisas distintas, eu diria que no papel quase não se nota e bastaria ler sem saber o autor das respostas para compreender que estava por trás de todas elas. Esta é realmente uma das facetas de quem escreve, a forma única e inconfundível de como o faz.

Volto a dar os meus parabéns ao Michel por este merecido prémio e desejar boa sorte para o futuro.

Volto, do mesmo modo, a dar os parabéns a quem teve a ideia de entrevistar um poeta, tudo seria bem melhor se todos os jornalistas fossem assim.

Parabéns igualmente à TUM e um conselho: Não estraguem o que está bem feito.


Abraços
Mário Martins

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