« Home | Xutos e Da Weasel no Enterro da Gata » | Mafalda Veiga abre palco do Enterro » | Gata enterra-se em português » | Curtas de Vila do Conde com mais de 1.800 filmes » | Cultura portuguesa mostra-se em Moscovo » | Despedida para cumprir calendário » | Câmara de Braga organiza IV Concurso de Fotografia » | IX Jornadas de Contos findaram hoje em Braga » | Goleada na cidade berço » | Sarkozy é o novo Presidente da França »

Folia de Blasted Mechanism na grande viagem Enterro da Gata

Os Blasted Mechanism subiram ao palco do Enterro da Gata na noite de Domingo. A chuva que caía e o chão enlameado não fizeram recuar os estudantes, que vibraram ao som das músicas a que Karkov dá voz. Pelo segundo ano consecutivo no Enterro da Gata, o grupo trouxe desta vez novo álbum, novas músicas e nova imagem, carregada de simbolismo e criatividade. O ComUM esteve à conversa com Karkov e Valdjiu (toca bambuleco e kalachraka), que nos falaram desta nova fase dos Blasted Mechanism.

A noite estava fria, a chuva insistia em marcar presença em intervalos quase regulares e o terreno estava completamente enlameado. Mesmo assim os estudantes não arredaram pé do recinto mostrando-se pouco intimidados com o mau tempo. Ao som de Blasted Mechanism a folia instalou-se e a animação fez-se sentir durante todo o espectáculo. Karkov afirma que o segredo para manter tanta gente junto ao palco numa noite de mau tempo como a que se fez sentir poderá ter sido “um álbum novo com umas musicas ‘bacanas’ e uma história de banda também engraçada já”. “Excentricidade, energia, o ser louco um bocado e passar também um bocado dessa loucura às pessoas” podem ter sido os ingredientes necessários para agradar aos jovens, adianta.

“Sound in Light/Light in sound” é o nome do novo álbum da banda. Apesar das diferenças com o anterior, este novo trabalho não mostra uns Blasted Mechanism diferentes: continuam a usar riffs gigantes, alternando estilos tão diferentes como o punk e o trance, a um ritmo bem acelerado. Acrescentam porém algumas novidades como a gaita de foles, tocada por Gonçalo Marques, e a guitarra portuguesa de António Chaínho. Artistas convidados são, aliás, o que não falta neste novo álbum, já que conta com presença ainda de nomes como Rão Kyao, Macaco, Transglobal, entre outros.

Os novos fatos são outra das novidades desta nova fase de Blasted. Há quem diga que se parecem com os fatos dos Power Rangers, mas Karkov assegura que vão buscar inspiração “a muitos lados e em fases diferentes do processo de criação a sítios diferentes”. “A nossa inspiração já foi por exemplo a vulcanologia, também já foi o céu estrelado nocturno, neste momento é o cruzamento de várias coisas”, esclarece. O vocalista explica ainda que “esta nova fase de Blasted Mechanism, com estes novos fatos, e o disco também, acho que é muito mais rico do que qualquer coisa que tenhamos feito até agora. Estes fatos, por exemplo, têm uma visibilidade tão própria, muito mais própria que a dos anteriores, no sentido de que se diferencia cada personagem um do outro. O meu [fato] sem duvida pode inspirar-se nos Aztecas, nos Maias, nos Incas, numa onda nipónica mas ao mesmo tempo com um animismo que é profundo”.

“Apesar de haver qualidade é complicado vingar” no estrangeiro

A meio da conversa surge um convite inesperado para um concerto em Inglaterra. A sugestão dá o mote para a discussão sobre a dificuldade de as bandas portuguesas vingarem no estrangeiro. “O que eu sinto mais é que enquanto selo empresarial [Portugal] não tem força, é uma marca transparente. Portugal é apenas conhecido pelo Algarve, pelas praias de Albufeira. É ai que as pessoas conhecem Portugal. É um bocado essa a imagem que o pessoal tem de nós e isso é difícil de combater”, desafoga Karkov. A “antena receptora” do grupo, como o caracteriza Valdjiu, assegura ainda que “nós devemos combater isso. Cada vez que vamos lá fora, isso já é um combate, é uma tentativa de conquista”. “Apesar de haver qualidade é complicado vingar”, conclui.

Há pouco tempo Sam The Kid lançou uma crítica a todos os grupos portugueses que não cantam em português. Sobre isso Valdjiu retorquiu que “no hip-hop às vezes faltam assuntos e então optam por falar mal”. “Acho que os cantores de hip-hop deviam tentar pegar mais um bocadinho na mensagem, criar uma imagem mais luminosa e projectá-la para cima dos jovens e a verdade é que andam sempre com uma vibração muito pesada e parece que anda sempre tudo mal”, acrescenta.

O novo álbum dos Blasted Mechanism apresenta-se com um formato único a nível mundial. O CD original de “Sound in Light/Light in Sound”, quando colocado no computador, contém um link de acesso ao download gratuito de um segundo CD. “É um híbrido, ou seja, é físico e virtual”, explica Valdjiu. A iniciativa surgiu porque “o mercado está completamente destruído”, esclarece o inventor de instrumentos. “Outrora conseguias fazer uma gestão de conteúdos e hoje em dia estás sujeito àquilo que te podem tirar de um dia para o outro. Com a Internet, as cópias privadas, é complicado”, prossegue. Para além disso, “ao lançar um disco virtual estamos a querer dizer aos nossos fãs que se habituem a ir ao nosso site e encontrar a nossa música de uma forma muito mais honesta”, esclarece. Apesar das dificuldades, Valdjiu assegura que “acima de tudo nós gostamos imenso desta fase da vida do mercado discográfico, até porque valoriza e permite acrescentar mais valias ao que estás a fazer. Se queres que as pessoas te oiçam tens que lhes dar uma coisa diferente”.

“Os Blasted são cada vez mais uma entidade”

No palco, pode dizer-se que os Blasted Mechanism são inigualáveis. Com um estilo e aparência muito próprios, estão desde sempre muito apegados à cultura do Cosmos e, concretamente neste novo trabalho, à Teosofia, bebida sobretudo da leitura dos livros de Helena Blavatsky. Os alter-egos vividos em palco espelham-se não só na música da banda, como na própria maneira de ser e de viver dos elementos que a compõe. “A hora e meia que mostramos aqui na vossa cidade [Braga] esta noite existe dentro de nós, mas está cá dentro e só é projectada realmente em cima do palco. São alter-egos que estão connosco, vivem connosco dentro da nossa cabeça. Nesta cabeça existe mais gente que o Karkov. O Karkov é só uma personagem, mas não é só um. Isso vai-se notando na criação artística que nós temos”, explica Karkov.

“Os Blasted cada vez mais são uma entidade, uma entidade criada não só pelos músicos mas também pelos fãs, pelo público, pelas pessoas que vêem para nos ouvir. É impossível separar-se o criador da criação”, acrescenta.

Quanto ao futuro dos Blasted, esse permanece uma incógnita, até para a própria banda. “Não adianta fazer planos porque atrapalhamos os planos que a vida tem para nós, como o Agostinho da Silva dizia. Não podemos atrapalhar o Cosmos e a surpresa que ele nos reserva para amanhã. Nós ficamos felizes por permanecermos felizes ao longo do caminho e fazermos os outros felizes, e isto vai-nos motivando para fazer mais”, finaliza Valdjiu.